A evolução dos suportes de informação - in "Semanário Económico" nº 492, 14 de Junho de 1996
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Categoria: Semanário Económico
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Atualizado em 17 novembro 2013
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Escrito por José Maria Pedro
Fala-se muito de informática, de computadores, de internet, de multimédia, de discos ópticos, de placas, de modem/fax, de processadores pentium, de velocidades de processamento cada vez maiores, mas nem sempre se tratam com a devida atenção alguns aspectos que apesar de serem menos populares são igualmente importantes na história recente das tecnologias da informação.Um dos aspectos mais interessantes de analisar é a evolução dos suportes de informação ao longo dos anos. Entendemos por suportes de informação todos os meios que guardam informação como o papel, as disquetes, os discos, etc.A maioria das empresas estão ainda ‘enroladas’ em papel. A utilização de outros suportes de informação não se mostra interessante aos olhos dos seus quadros. Existe uma atracção especial pelas longas folhas de papel, os traços, as letras e desenhos, feitos pela mão treinada, são uma extensão da personalidade individual. As pastas grandes e bem cheias de papel são ainda uma forma de demonstrar que se trabalhou muito, mesmo que se trate apenas de fotocópias completamente inúteis.Os especialistas em tecnologias de informação, dirão que é apenas uma questão de tempo e dinheiro, até ao predomínio de outros suportes de informação. Quem sabe ?! Ainda usamos a pedra como suporte de informação! Quando um escultor como Cutileiro desenha as mulheres, os montes e os sobreiros alentejanos em pedra, está a transferir informação de si próprio, relativa ao seu sentido artístico, para a pedra. Para este artista a pedra é o melhor suporte de informação do mundo!É pacífico, para nós, aceitar uma determinada sequência histórica na utilização dos diferentes suportes de informação, por exemplo: Pedra, Madeira, Pele, Pano, Papel, Fita Magnética, Disquete, Disco Magnético, Disco Óptico, etc. formam uma sequência natural assente em motivos perfeitamente identificáveis e onde a sucessão nunca é absoluta.O papel é um caso estranho e persistente. Até à pouco tempo, acreditava-se que o aparecimento dos computadores iria reduzir drasticamente a quantidade de papel utilizada na maior parte das organizações. Os escritórios electrónicos, cada vez mais sofisticados, permitiriam trocar informação em grandes quantidades e a grande velocidade, sem necessidade de papel e de mensageiro.Factores como o Peso, a Transportabilidade, a Fidelidade, a Facilidade de Gravação, o Espaço Ocupado, a Durabilidade, a Segurança Contra Acessos Indevidos, a Densidade, a Rapidez de Acesso e a Atitude Psicológica dos utilizadores da informática, assumem incontestavelmente um valor diferente para cada suporte. O conjunto das vantagens e desvantagens de cada um acabam por pesar nas decisões da indústria e dos consumidores na escolha dos suportes.O Peso é um factor fácil de entender, quanto mais leve for o suporte melhor, porque se torna mais barato o transporte. Uma simples disquete pode substituir várias dezenas de resmas de papel, um disco óptico pode substituir centenas. Se não existirem outras condicionantes, os suportes mais leves serão sempre preferidos.A Transportabilidade tem evoluído de uma forma incrível. Recentemente, li num jornal de desporto que a Bola passou a chegar ao Norte através das telecomunicações. Isto permite que seja impressa mais perto dos pontos de distribuição, obtendo com isso menos peso deslocado, menos tempo de transporte, mais eficiência, mais economia e maiores vendas porque pode chegar mais cedo aos locais de distribuição final. Neste caso, o carro foi substituído pelas comunicações no transporte da informação! O papel é efectivamente importante na divulgação da informação jornalística porque para ler um jornal ainda é mais simples fazê-lo sobre o papel, mas numa parte do processo de distribuição já foi substituído pelas telecomunicações.Outro dos aspectos a ter em conta é a Fidelidade de cada um dos suportes da informação, porque para a maior parte das actividades económicas é um factor de negócio. Diz-se que escrever em suportes magnéticos é como escrever na areia. De facto podemos escrever por cima do que está escrito, apagar, escrever de novo e ainda continuamos a ler sem problemas. Que maravilha de suporte! Contudo, é preciso proteger o que está escrito, do vento, da chuva e de qualquer espécie mínima de erosão, mesmo a que resulta das intenções menos dignas das pessoas.O papel é mais seguro, a menos que tenha sido escrito a lápis, podemos sempre identificar o efeito da borracha ou do corrector. Com efeito, a prova que é constituída pelo facto de o papel não deixar apagar sem vestígios, não pode ser obtida nos suportes magnéticos.A Lei Portuguesa considera o microfilme como prova porque não admite ser regravado, os discos magnéticos só serão prova mediante o preenchimento de condições seguras de armazenamento. Podemos então concluir que apesar dos suportes magnéticos ocuparem actualmente um importante lugar entre os seus pares, não são completos, não respondem perfeitamente a todos os requisitos desejáveis para um suporte de informação, mas têm vantagens próprias.Os discos ópticos apresentam um grau de fiabilidade superior porque algumas variedades não são regraváveis, como é o caso dos discos WORM (Write Once Read Many), admite-se que venham a ocupar um lugar de destaque no futuro.O que pode condicionar a expansão de suportes deste tipo é a Facilidade de Gravação. Pode medir-se pelos instrumentos e habilidade necessários no processo de escrita. Numa pedra podemos escrever com outra pedra, na madeira com um instrumento ligeiramente mais complexo, mas numa disquete ou disco óptico exige-se um computador, o que muitas vezes pode não ser muito prático. Se olharmos para a história podemos concluir que à medida que os suportes de informação evoluem, os instrumentos de escrita e leitura são cada vez mais complexos.Contudo a evolução não deixa de prosseguir, além das dificuldades existem ainda factores como o Espaço ocupado que condicionam decisivamente a escolha dos suportes. Realmente não parece muito económico afectar espaços sucessivos à guarda de material de arquivo durante longos anos como as Leis obrigam, sobretudo tendo em conta o preço do espaço nos locais preferidos para instalação de escritórios. Cada metro cúbico de espaço anexado constitui um custo adicional que importa anular. Uma solução de arquivo óptico é indiscutivelmente mais económica e mesmo mais segura contra incêndios.Depois do espaço é oportuno lembrar que a Durabilidade dos suportes de informação sempre preocupou as organizações. O FAX, um meio de comunicação tão divulgado, começou por ser impresso por acção térmica que tinha uma durabilidade de poucos meses. Uma informação importante, como a prova de um compromisso, por exemplo, obtida a partir de um FAX e guardada religiosamente durante anos, podia revelar-se uma desagradável surpresa no momento de ser usada. Actualmente a impressão a Laser, disponível na maioria dos FAX, oferece um nível de durabilidade muito melhor, embora a do disco óptico seja ainda maior.Acreditando nas inúmeras notícias recentes sobre pirataria de informação, a Segurança contra acessos indevidos parece ter vindo a degradar-se à medida que os suportes da informação se vêm modernizando. Um documento de papel ou de pele guardado num cofre pode considerar-se seguro se o código da fechadura não tiver sido divulgado. Mas um texto em suporte magnético, encriptado e colocado no disco de um computador pode dizer-se que é igualmente seguro.As facilidades de cópia são muitas, o computador pode estar integrado numa rede informática mal protegida dos piratas internos e externos, mas a possibilidade de encriptar funciona como o cofre. Podem descobrir a senha usada para encriptar, mas também no caso do papel, pode ser descoberto o código do cofre. Por outro lado, a dimensão dos suportes ópticos permite arrumar grandes quantidades de informação em cofre tornando-as duplamente seguras.A possibilidade de guardar grandes quantidades de informação numa pequena superfície, vulgarmente designada por Densidade, tem evoluído extraordinariamente. Desde a pedra até ao disco óptico, a quantidade de informação que podemos gravar sobre uma dada superfície é incrivelmente maior. Mesmo entre o papel, que é um suporte relativamente recente, e o disco óptico há diferenças tão assinaláveis que impressiona admitir que o papel ainda existe.Grandes quantidades de informação costumam condicionar a Rapidez de Acesso porque o tempo de busca é maior. Os meios evoluíram igualmente de forma estrondosa. A rapidez com que se podem colocar milhares de caracteres no ecrã não tem muitas semelhanças com a lentidão do processo tradicional de obter dados a partir do papel como procurar o livro, abrir e encontrar a página desejada. As facilidades de pesquisa oferecidas pelos softwares da especialidade, mesmo os mais simples, são impressionantes. Uma ou duas centenas de páginas são transportadas em segundos desde a sua localização de armazenamento até ao ponto de utilização. As vantagens de um suporte óptico, na rapidez de acesso, são incomparavelmente maiores do que as do papel quando os dados são convenientemente organizados antes da gravação.A Psicologia dos recursos humanos e as suas atitudes perante as novidades são um factor determinante também. Normalmente, os funcionários incluídos na zona etária a partir dos 40 anos, quando colocados perante a possibilidade de utilizarem meios informáticos, preferem usar os métodos e instrumentos de trabalho tradicionais. Supõe-se que isso aconteça porque não dispõem do tempo necessário para a aprendizagem dos novos meios e porque se sentem mais seguros sem eles. Conheço alguns bons profissionais perfeitamente treinados na utilização de um moderníssimo processador de texto, com todas as condições para substituir a máquina de escrever e o respectivo papel, que continuam a precisar de imprimir de vez em quando para sentirem na mão o peso e o aspecto do documento produzido sobre papel. Para estes, o disco magnético ou óptico não tem qualquer atractivo.A juventude ditará as regras do futuro. Compreende-se facilmente que a geração dos jogos de vídeo, tenha uma receptividade maior aos meios informáticos, antes de nascer eles já eram observados em vídeo nas ecografias e cresceram em frente da televisão e do computador.Depois de termos escolhido o que há de melhor é justo que se apresente a conta. O Preço, apesar de mencionado em último lugar não é o menos importante. É comum admitir-se que os equipamentos informáticos têm vindo a ficar cada vez mais acessíveis financeiramente e mais pequenos em dimensões e peso. Contudo, não nos parece simples para uma empresa atribuir um computador a cada um dos seus funcionários da mesma forma que distribui papel e esferográficas. As más línguas dirão: - Se podemos escrever com uma caneta de 50 escudos, qual é a necessidade de um computador e de uma impressora que podem custar 500 mil escudos? Estamos a usar mais 499.950$00 do que o valor da caneta. Para quê?A resposta é simples, o computador, para alguns utilizadores, não é um mero instrumento de escrita, é também um poderoso catalizador das operações efectuadas sobre informação potenciando um maior valor acrescentado. Por exemplo, permite acelerar o trabalho economizando tempo, que como sabemos também é dinheiro, permite obter melhor aspecto e maior qualidade relativamente ao seu conteúdo, entre outras razões.Para concluir, podemos afirmar com tranquilidade que o papel teve os seus dias de ouro, continuará a ter alguma importância, mas deverá sair progressivamente do lugar de destaque que ainda ocupa. O futuro pertence aos suportes que ofereçam maior economia às empresas. O disco óptico é sem dúvida um sério candidato como suporte de informação do futuro. As suas vantagens aliadas à generalização da utilização de computadores, acabarão por justificar a mudança.