O Problema da Medição do Capital Conhecimento
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- Categoria: Métodos de Medição
- Atualizado em 16 agosto 2015
- Escrito por José Maria Pedro
Tratando-se de um activo tão importante, é indispensável proceder à sua avaliação com objectividade. Cremos que não existe ainda nenhum método definitivo ou sistema de informação com dados suficientes para avaliar o valor do conhecimento disponível na empresa.
É verdade que os activos da empresa são relevados na contabilidade e devem ser evidenciados no Balanço. Mas, os técnicos de contabilidade dirão, com base nos Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites (PCGA) - especialmente o da prudência, que não deve ser atribuído valor a activos desconhecidos, sob pena de se incorrer em falta de objectividade nas contas.
Será correcto determinar o valor da empresa a partir dos activos do Balanço, mesmo depois de auditados e convenientemente ajustados ao valor real? Talvez, se forem incluídos todos os activos – tangíveis e intangíveis – e se os auditores usarem um critério valorimétrico adequado, designadamente questionando o mercado que é considerado a melhor referência de valor dos activos.
O valor de mercado de uma empresa, avaliado pela capitalização bolsista, é normalmente muito superior àquele que consta do balanço. Para as empresas Portuguesas cotadas na Bolsa, a diferença entre o valor de mercado e o valor líquido contabilístico é assinalável, como se pode observar na figura seguinte, a relação entre o valor de mercado e o valor contabilístico é cada vez maior, a média dos rácios das empresas cotadas evoluiu de forma muito positiva entre 1991 e 2013:
Figura 1 – Evolução do Rácio Global MtoB das Empresas Cotadas na Euronext Lisboa de 1991 a 2013
Segundo o professor Keith Bradley da Open Business School (UK), esta diferença tem vindo a acentuar-se também na economia Americana. Refere que nos últimos 20 anos tem havido um considerável alargamento da diferença entre o valor atribuído pelo mercado às empresas cotadas e o valor dos activos constantes do balanço. A média do rácio Market-to-Book definido por estes dois valores nas empresas dos US entre 1973 e 1993 aumentou de 0,82 para 1,692.
Esta diferença é visível sobretudo no valor atribuído por ocasião de aquisições ou fusões das empresas. Um dos exemplos muito referidos na literatura dedicada ao tema é a aquisição da LOTUS pela IBM em 1995 por 3,5 biliões de dólares com um valor registado nos livros de apenas 0,23 biliões de dólares. Trata-se de uma diferença colossal explicada, neste caso, pelo valor das bases de dados dos clientes, conhecimentos dos empregados e sobretudo a habilidade da gestão para envolver toda a empresa no desenvolvimento e produção do LOTUS NOTES no momento exacto.
Se os activos tangíveis registados nos livros da empresa representam tão pouco e cada vez menos o valor da empresa, então há activos intangíveis, não considerados no Balanço, que estão a assumir um papel cada vez maior.
A análise desta situação faz surgir questões complexas e difíceis de responder. Por exemplo:
- A diferença entre o valor de mercado e o valor líquido contabilístico da empresa deve-se inteiramente à presença de activos intangíveis como o conhecimento na forma de capital?
- Será possível atribuir, objectivamente, um valor ao conhecimento da empresa, destacando-o ou não de outras parcelas que eventualmente existam?
Na linha destas preocupações e tentando encontrar resposta às questões colocadas, Leif Edvinsson sustenta que o modelo tradicional de contabilidade que tão brilhantemente registou as operações empresariais ao longo de meio milénio, está agora a revelar-se incapaz de acompanhar a evolução verificada na actividade empresarial.
É necessário identificar e medir os activos não contabilizados actualmente para dar objectividade aos sistemas de informação empresariais, designadamente os contabilísticos. Leif Edvinsson alerta para as consequências desta situação ao afirmar que "uma economia que não pode medir adequadamente o seu valor não pode distribuir com objectividade e rigor os seus recursos nem recompensar adequadamente os seus cidadãos". Não é possível remunerar objectivamente factores desconhecidos, por isso considera-se de extrema importância a identificação e medição dos activos que contam para o valor da empresa.
A literatura recente sobre este tema propõe algumas formas de avaliação dos activos intangíveis, assumindo que são enquadráveis no conceito abrangente de capital conhecimento, mas falta ainda analisar a objectividade desses modelos através da sua aplicação à realidade, com dados fiáveis e comparáveis.